Necessidade ou só desejo?
O aumento na venda de peças falsificadas traz à tona o
questionamento sobre o valor de cada produto para as pessoas
Alvo de
critica ou de desejo, bolsas que custam o valor de um carro sempre serão polemicas.
Mas não só bolsas, como sapatos, casacos (até mesmo chinelos), produzem um
sentimento de fetiche nas pessoas (principalmente mulheres). Elas gastam todo
seu cheque especial e ficam endividadas para carregar um broche, ou qualquer
mínimo pedaço de pano que traga uma marca. Mas a realidade é que essas marcas são
conhecidas como Maisons, famosas lojas que existem há anos (até mesmo centenas
deles), e que carregam na história, a tradição de serem sempre usadas por parte
da população mais famosa da região.
|
Gabrielle Bonheur Chanel |
Para entender
o poder de uma Maison, que conheçamos a mais famosa. Gabrielle Bonheur Chanel
começou sua carreira cantando em bares. Atraído por seu corpo e beleza, Etienne
Balsan apaixona-se por Chanel. Tornando-se mulher de um socialite, Chanel se
entrega totalmente à criatividade, que sempre correu por suas veias. Começa a
costurar belos chapéus para a burguesia, e atrai olhares de todos por onde
passa, pelo seu modo irreverente de se vestir. Até hoje é conhecida por mudar
radicalmente o vestuário da época, adaptando peças masculinas ao armário
feminino. Por serem usadas pela alta burguesia, suas peças custavam um preço
alto.
Assim, a
partir do século XX, começa a pirataria da moda. Todos desejam a peça-chave do
momento. Ela se torna um símbolo de distinção de classes sociais, e é um anseio
do ser humano desde os tempos mais primórdios ser bem visto. E, no século XXI,
esse consumo de peças falsificadas aumenta, a partir do aumento proporcional do
mercado de luxo e das tecnologias.
A falsificação
dos produtos traz um pensamento sociológico que deve ser questionado. Ele
revela uma sociedade que deseja os produtos apenas pelo poder que eles trazem.
A vontade de “ter só para ter”. Além disso, esse consumo desenfreado mantém-se
num ciclo vicioso, na medida em que no mundo contemporâneo, tudo o que é novo,
é melhor. Logo, as lojas fabricam peças novas a todo o momento, obtendo o lucro
garantido.
|
Saara, no Rio de Janeiro |
Porém, não o
que acontece com as classes inferiores. As pessoas tentam fazer parte desse
estilo de vida e consumo, procurando produtos que parecem muito com os
originais. E lojas fast fashion, ou outros produtores, passam a fabricar peças
que se igualam às originais, com preços muito mais baratos. Para Felipe dos
Anjos, esse mercado abriu as portas para um consumo de pirataria desenfreado: “Acredito
que todo mundo tem peças da China. Algumas pessoas com certeza vão falar que
são contra a pirataria, mas possuem peças que não são verdadeiras. Se todos
fossem totalmente contra o que falam, o Saara estaria fechadaoe não seria
o maior polo de vendas o Rio de Janeiro. Não tem como, a pirataria sempre
existiu e sempre vai existir”.
De um modo geral, a maioria das
pessoas que consomem os produtos falsificados, afirmam que o custo dos produtos
originais é um absurdo. “Não tem como comprar um cd de musica por 50, 60 reais.
Ainda mais hoje em dia, onde as musicas podem se baixadas na internet mesmo.
Acabo comprando no camelô da rua mesmo. Compro três cd’s por 10 reais, porque
gosto de escutar no meu carro”, conta Victor Carvalho.
Somente neste
ano, o consumo de peças falsificadas movimentou R$ 46,5 bilhões nos setores de
roupas, tênis e brinquedos. Com o aumento de sites de vendas, o consumo
tornou-se maior ainda. Vendedores da China anunciam seus produtos por preços
muito baratos, atraindo o olhar de consumidores que poderiam até comprar o
produto original. “Eu já tinha comprado um celular no final do ano, e ele foi muito
caro porque era original. Acabei perdendo no carnaval e ainda nem tinha acabado
de pagar. Quando fui pesquisar na internet, vi um celular com as mesmas funções
por muito mais barato. Comprei da China e chegou um mês depois. Achei bem mais
em conta”, narra Ialu Iumê
Mas, para
muitas pessoas, o consumo de peças falsificadas é totalmente errado, e no fim
das contas, a pessoa que compra a peça para mostrar status, acaba produzindo
outro tipo de sentimento em quem reconhece que a peça não é verdadeira. “Eu
acho que não tem nada a ver. Se você tem dinheiro pra comprar uma bolsa de
cinco mil reais, bacana, compra e usa. Mas se você não tem, não compra uma mais
barata, falsificada. Todo mundo reconhece que é falsa, e além disso, é um
dinheiro gasto desnecessariamente. A peça não tem uma boa qualidade, não vai
durar. Não entendo porque as pessoas acham isso legal”, questiona Joana Almeida